segunda-feira, 1 de dezembro de 2008


Em entrevista com...
Diamantino Guimarães - Médico Ortopedista



"Muita dedicação e muita formação: é tudo o que um médico precisa de ter!"

São 24 anos de trabalho e experiência que dão cor a esta entrevista. Uma profissão que coloca quem a escolheu numa ténue fronteira entre a razão e a sensibilidade. Coisas que só depois de muitos anos podem ser encaradas com naturalidade. Uma vida que fica dividida entre a do profissional e a de quem o procura. Uma luta pela responsabilidade e pelo peso que esta implica. A medicina como lema de vida!

A trabalhar em medicina, desde 1984, Diamantino Guimarães confessa que escolheu o seu próprio rumo sem influência de terceiros. Assumindo que ser médico é ser igual a tantas outras profissões, frisa que o necessário é amar aquilo que realmente de faz e quando questionado acerca de uma sensibilidade especial, responde: "Quando se decide ser médico já se sabe para o que se vai, logo, depois de estar lá dentro não se colocam questões de sensibilidades, nem feitios. "

Como começar nem sempre é fácil, o médico de 52 anos, afirma que a maior dificuldade no início da sua carreira foi conjugar aquilo que aprendeu na faculdade com aquilo que é de facto a prática clínica. Na vida real as coisas processam-se de modo diferente e "trabalha-se a um rítmo e a uma intensidade, por vezes dificeis de gerir" diz o próprio.

Admite que ser médico implica viver um pouco das dificuldades dos doentes que todos os dias passam pelo consultório, mas lembra que desde cedo se impôs a si próprio a condição de ao fim do dia trancar a porta que separa o hospital de sua casa.

Diamantino diz que deve haver um bom distanciamento, caso contrário, as depressões seguir-se-iam umas às outras "Como tal tentamos ter a menor afectividade possível em relação à situação do doente." Mesmo assim, há casos em que o processo é complicado de se fazer, por estar um ser humano do outro lado.

Quando se fala da responsabilidade da profissão, a expressão facial fica mais carregada e o profissional reflecte "É com muita dificuldade que se lida com as situações em que as coisas correm mal." No seguimento deste assunto, Diamantino Guimarães recorda que algumas vezes roubou horas à casa e à família para assistir os outros, unicamente por uma questão profissional "Não se é só médico durante o horário que nos é estipulado. Para ser médico é preciso sê-lo a tempo inteiro!"

O ortopedista que poderia ter sido cirurgião plástico, mas nunca pediatra, desabafa que trabalhar na urgência é um desafio único. Médico na urgência do Hospital de São João, Diamantino confessa que nas alturas urgentes a emoção fica para último lugar e só a razão pode deixar que seja prestado ao doente o melhor serviço possível, coisa em que só a experiência, muitas vezes, pode ser boa conselheira.

O profissional consciencializa que o seu lema de vida mudou, pontualmente, ao longo dos anos em que tem vindo a exercer a profissão, sendo que uma das maiores mudanças está na relativização que faz aos problemas "As situações mais dramáticas fazem-nos sempre pensar nas alturas em que nos preocupamos por coisas que não justificam tal preocupação. "

Delegando para os mais novos aventuras e ritmos diferentes como os do INEM ou das experiências sem fronteiras, Diamantino Guimarães enfrenta sem medo a palavra "negligência" à qual os médicos estão muitas vezes sujeitos, "Pensa-se sempre que o médico é que falhou e que o médico é que não se interessou. Para se ser julgado por negligência é necessário avaliar outros parâmetros que nem sempre são tidos em conta."

Certo de que não trocaria a sua profissão por nenhuma outra, responde a perguntas sobre a Medicina em Portugal, numa segunda parte desta entrevista.















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